top of page

Puzzle - Ou quebrando a cabeça com um filme simples e muito bom

ree

Recentemente assisti a um filme de 2018 na Netflix que realmente vale a pena: Puzzle, ou Quebra-Cabeça em português do Brasil.


Fazia tempo que eu não via uma história simples tão bem contada, leve, fotografia muito boa, personagens impecavelmente construídos, atuações top (especialmente da atriz principal), cadência idem.


Sempre que vejo um filme assim lembro do meu pai e de como ele falava, apaixonadamente, sobre o incrível poder de uma história bem contada.


É por isso que fico furioso com certos diretores de cinema que precisam usar “linguagens alternativas” (sic) para tentar fazer sucesso.


Preto e branco, uso de alegorias estéticas chocantes, etc. para tentar criar peso dramático, como se forma fosse substituto digno do conteúdo. Tal como aquele diretor dinamarquês metido à besta que fica balançando a câmera só para fazer charminho… E olha que alguns de seus filmes têm enredos muito bons, nem precisavam da frescura alternativa para fazer sucesso.


Enfeitar não esconde ou melhora o que realmente importa: uma história muito bem contada e bem amarrada é sempre atemporal. Filmar em preto e branco não salva o enredo…


E o enredo do filme Puzzle é muito bom, o desenrolar da história é excelente e a combinação de tudo faz do filme algo imperdível. É despretensioso e simples - justamente por isso poderoso e arrebatador.


Ainda estou impactado pela história, pensando como arte pode mexer com as pessoas. Pode - e deve - nos tirar da zona de conforto. Não há revolução pessoal sem arte.


Este texto foi inspirado ao escutar uma versão jazz da música-tema de Cinema Paradiso, uma ode ao cinema que vem envelhecendo bem, um dos filmes mais incríveis da minha vida. E uma lembrança permanente e contundente do poder da narrativa e da arte.


Há muitos pseudoartistas que se focam quase exclusivamente na forma, esquecendo ou negligenciando o conteúdo, tal como pintores abstratos que acham que não precisam saber desenhar ou conhecer história da arte de forma profunda. Ou DJs que acham que são "músicos" por saberem mixar "putz-putz" dançante. Fotógrafos que fazem fotos medíocres, mas de temática politicamente correta. Ou, ainda, diretores de cinema, invariavelmente brasileiros, que teimam em tentar fazer de um curta-metragem um longa sem ritmo, sem sustentação, sem conteúdo ou enredo decente, mas descoladinho e, invariavelmente, aprovado pela turma woke.


A arte hoje não é só pobre, ela vem sendo mais e mais dominada por pessoas pretensiosas, que acham que são intelectuais sofisticados, mas que só leram os autores "certos" (os poucos que têm o "lugar de fala", né?) e que, por isso, são completamente imunes às críticas tradicionais rigorosas.


Boa parte da arte contemporânea não é avaliada friamente só pelas suas qualidades, mas quase sempre por quem o artista é, por quem a criou. Se o artista fizer parte de alguma minoria - especialmente se mesclar mais de uma, sucesso garantido! Se for homem branco heterossexual, nada pode ser bom!


Numa época dominada pelo baixo nível intelectual, estético e artístico na música, artes plásticas, cinema e dramaturgia, somos sempre surpreendidos quando cruzamos com algo simples, sútil, leve e muito bem feito como o filme Puzzle.


Não deveria ser assim, mas infelizmente é. Se conseguirem assistir o filme, não percam.



PS: se tiverem interesse na versão jazz da música tema de Cinema Paradiso, vai o link abaixo. Um dos meus trios favoritos.




Comentários


©2023 por pensarlivrepensar.com

bottom of page